É isto o homem?
O título deste prefácio advém da obra “homônimo” umas das mais relevantes obras do escritor italiano, Primo Levi, que concede uma grandiosa reflexão em relação a condição humana ante a opressão, o medo, a incerteza, a morte, a perda da própria identidade e o processo de desumanização dos que como ele eram prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Grande Guerra.
Após 74 anos isentos de guerras mundiais, muitos de nós continuamos reféns de ditos representantes populares que agem publicamente ou silenciosamente desvirtuando a democracia, definindo nossos destinos de forma negativa e impossibilitando o triunfo aos menos afortunados, que lutam bravamente para romper as trincheiras inimigas e garantirem sua sobrevivência. E assim, seus protagonistas submetidos vagarosamente a um processo de desesperança em relação, a si e aos que o cercam.
E se por um lado, existe a presença de indivíduos que utilizam métodos maquiavélicos para manipularem a sociedade ao seu bel-prazer, munidos de uma visão distorcida do bem estar coletivo, por outro, somos corroídos vagarosamente em nossas jornadas pelo condicionamento de que a ideologia capitalista é totalmente benéfica quando nos concede benefícios e supre nossas necessidades imediatistas.
À vista disso, fazendo esquecer que somos induzidos à competição, ao individualismo e ao estímulo do consumismo, imediatamente nos conduzindo à satisfação individual para que sejamos entorpecidos por uma suposta e relativa felicidade calcada no materialismo. Deste modo, percamos nossa percepção e responsabilidade em relação ao coletivo e quão podemos modificar positivamente as histórias daqueles que nos cercam.
É neste paralelo entre o desalento e o propósito coletivista que reside à cooperação e ao cumprimento com relação aos demais, que encontra-se a obra do quadrinista, Gabriel Jardim.
Na história somos apresentados ao jovem Joalysson, UBER espacial, oriundo do planeta Sertão, e sua audaciosa e quase monossilábica piloto Qeï, que ao serem contratados pela capitã Hass partem em uma missão em que a recompensa a ser paga é mais importante do que seu propósito.
Entretanto, a trama que renderia apenas uma grande aventura irá nos apresentar uma frenética e reflexiva jornada sobre as angústias, o genocídio, a ambição, a luta pelo poder e a desvalorização humana, guiando o jovem sertoniano e sua piloto ao se confrontarem com seus dilemas éticos e morais.
Em tempos de inúmeras incertezas, a obra “Lanço Celestino” por meio de seu jovem protagonista apresenta-se como vaga-lume em meio às trevas que ciclicamente circundam nossa existência, e nos concede esperança ante a insistente natureza destrutiva do ser humano.
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